Coluna Zadir Marques Porto
Foram muitos anos de luta e houve até proibição de ser praticado pelo presidente Getúlio Vargas em 1941, mas o futebol feminino brasileiro hoje desfruta de merecido prestígio pelo indiscutível crescimento técnico obtido nos últimos tempos, premiando o esforço de dirigentes que acreditando nessa possibilidade, investiram no que para muitos era uma "bobagem" e uma temeridade.
Em Feira de Santana, como em outras cidades o processo é antigo e mais acentuado a partir da década de 1960, quando o saudoso radialista J. Magno tentou formalizar tentativas audaciosas existentes por parte de algumas jovens, majoritariamente estudantes. Em duas oportunidades ele levou à frente a experiência criando o time feminino do Bahia de Feira e do Fluminense.
Todavia, em 1978, o radiotécnico Edmilson Amorim - Michelinho, vindo de Muritiba, assumiu a presidência do Flamengo - forte equipe local -, e resolveu criar um time feminino apoiado pelo panificador Expedito Martins. O bairro da Rua Nova era o cenário ideal e no campo Beira Riacho (hoje um estádio) os treinamentos foram iniciados.
A estreia do Rubro-Negro contra o Bahiano de Tênis em jogo noturno na Fonte Nova não foi boa. Estranhando a iluminação artificial, o gramado, e enfrentando uma equipe preparada o resultado foi uma derrota: 6 x 1. Poucos dias depois, em revanche no Joia da Princesa, a vitória foi do Rubro-Negro local por 2 x 1 sobre o time da capital.
A formação da estreia e da revanche é lembrada pelo dirigente: Rosangela; Ivonete, Lucia, Marcia, Neuma, Ivana. Vilma e Ninha, Pitéu, Rose e Rosinha. A partir daí o Flamengo de Feira passou a se constituir em uma das mais importantes equipes femininas do Nordeste vencendo na final da I Copa Feminina da Bahia, o Bahiano de Tênis por 2 x 1 que ficou com o titulo pelo saldo de gols.
Tricampeão baiano o Rubro-Negro representou a Bahia no Norte/Nordeste e ficou em terceiro lugar na Taça São Paulo. Todavia, o maior saldo na opinião de Michelinho foi colocar cinco atletas na Seleção Brasileira: Solange, Daí, Marcia, Nalvinha e Sissi. Esta considerada a melhor jogadora do futebol brasileiro. Canhota, dotada de técnica apurada, Sissi radicada nos Estados Unidos onde encerrou a carreira, é apontada por Michelinho como superior à consagrada rainha Marta.
Em 2018, o dirigente Rubro-Negro desativou o departamento de futebol feminino, o que explica: “Foram 40 anos gastando e me desgastado. Com a profissionalização desse esporte, ficou impossível continuar. Hoje só com grandes patrocinadores para fazer futebol feminino” afirma Edmilson Amorim, mas confessa que sente saudade.
Zadir Marques Porto é jornalista e radialista.