Coluna Djalma Dilton
Em 1973, trabalhando como Caixeiro Viajante, não sabia muito sobre a cidade de Juazeiro-Ba. Então, cansado da viagem, procurava um restaurante mais próximo para não precisar usar o veículo.
Defronte do modesto hotel onde me hospedei, estava um rapaz apoiado numa bicicleta, o qual, busquei informação. Trinta minutos foram suficientes para nos conhecermos e percebermos que tínhamos algo em comum com o futebol.
Era um jovem tímido com um corte de cabelo militar porque estava servindo no Tiro de Guerra da área.
A chegada da aguardada namorada, filha da dona do hotel acima mencionado, interrompeu nossa conversa amistosa.
Ao agradecer-lhe pela informação adquirida, respondeu-me com um generoso convite, a participar do treino do Carranca (campeão juazeirense da época.)
O convite foi aceito, quando já prevenido carregava no veículo todo material preciso para aproveitar essas oportunidades.
Apresentação seguida de autorização pelo técnico Edésio (o mesmo que ensinou João Gilberto a tocar violão.) Este momento me proporcionou a honra de assistir e testemunhar um lance, atípico, concluindo com um extraordinário gol, que no conjunto da obra, seria o gol "Puskas" daquela ocasião se esse fosse o prêmio.
Oh! Se eu tivesse a competência de narração brilhante e fiel de Luciano do Vale! Ou se houvesse um cinegrafista, que nos projetasse em câmera-lenta, detalhadamente, tamanha preciosidade.
A bola é lançada para explorar a velocidade do ponta direita, Feijão. Ao dominar a pelota, ele tenta surpreender o guardião, confiado no seu potente e certeiro chute, que lembrava ícones como, Canhoteiro, Nelinho e outros desta especialidade.
A intenção era chutar com um efeito "venenoso," mas o efeito desejado se transformou em um antídoto, fazendo com que a couraça subisse excessivamente e contrário ao gol, sem direção definida; surge um corpo como um fantasma e, com um impulso impressionante, sobe ao encontro para recepcionar a esfera de couro, como se fosse socorrê-la, por vê-la ainda rodopiando no espaço, semelhante uma arraia.
Sabemos, que atrás de uma arraia, sempre há um garoto; e, não foi diferente. O garoto aparece desafiando a gravidade, para cuidar do seu brinquedo de couro, colando-o ao peito com todo carinho; e, sem tocar os pés no chão ele faz uma volta sobre o corpo, como mestre-sala de escola de samba, ou mesmo a brincar de futevôlei, lançando com o peito para a coxa direita e desta para esquerda, num milésimo espaço de tempo para finalizar com um pelotão e assim, interromper o treino para receber cumprimentos de todos ali presentes.
Ouve-se o apito de Edésio para retomada do treino, com as inesquecíveis e proféticas palavras do saudoso técnico: "Muitos outros gols bonitos como este virão dos pés deste garoto!"
As profecias se cumpriram, quando João Cobrinha percorreu alguns clubes como Confiança de Aracaju e Santa Cruz de Recife, até chegar ao Flamengo.
Lá, ele deixou o passado como João Cobrinha ou João Danado e se tornou conhecido como Nunes, atuando pela Seleção Brasileira e ser Campeão Mundial pelo Flamengo, como destaque de artilheiro.
Djalma Dilton é escritor, poeta, compositor e cantor. Membro da Academia Brasileira de Artes Integradas. Ex-jogador do Bahia de Feira nos anos 1960 a 1962.
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