quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Exclusivo: De volta o "Complexo de vira-latas!"

Coluna Djalma Dilton

Em maio de 1958, a Seleção Brasileira de futebol estava na Suécia para a disputa da Copa do Mundo.

O dramaturgo, jornalista e  cronista Nelson Rodrigues, da revista Manchete Esportiva, escreveu na coluna "Personagem da Semana" que dizia: "Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. " Ele usou a voz para expressar sua dor e vergonha enquanto sofria com a perda da Copa de 1950 para o Uruguai.

Mesmo, oito anos passados não conseguiram aliviar a angústia de 60 milhões de brasileiros.  De acordo  com sua perspectiva de cronista esportivo,  impressionante a maneira como ele comparou os nossos atletas aos grandes nomes internacionais daquela época.

Conforme o texto publicado em 31 de maio de 1958: "Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros que apanharam, aqui, do aspirante enxertado Flamengo, pois bem:  -  não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se de Puskas. Eu contra argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas,  um Jair. um Zizinho."

Neste patriótico e apaixonado desabafo, intrigado com a ferida ainda aberta a cicatrizar, procurando uma forma de entendimento ou de se consolar. E, em tempo, levar consolo aos compatriotas: "Temos dons em excesso!"

Sem encontrar uma explicação lógica, mesmo sabendo que esta regra não existe no futebol. Ele cria, então, uma expressão  tentando justificar o fracasso do nosso escrete, até aquela data: "Complexo de vira-latas!"

Até hoje, esta alusão é usada, a qual, traduzida pelo criador da mesma, é o desdém de alguém inferior; talvez inspirado em cães de rua sem donos que buscam comida revirando as latas de lixo.

O descrédito não se limitava a Nelson Rodrigues; era geral. Mas, surpreendentemente,  ocorreu a primeira conquista, até chegar ao Tri em 1970, enquanto o mundo inteiro se dobrara à soberania futebolística dos brasileiros. Imagina-se a felicidade incontida deste povo sofrido e carente, a chutar para bem distante, a alusão  de "vira-latas" a  "reis do futebol!"

Tivemos mais dois títulos mundiais, após 1980, quando da sua partida do globo terrestre, conquistados nos anos de 1994 e 2002, os quais, não tiveram os especiais registros da sua coluna.

É com imenso constrangimento que sou obrigado a confessar-lhe que estamos com um longo jejum, passando  vexames, desrespeitados e sem nenhuma perspectiva de novas conquistas. Oxalá, os deuses do futebol, sejam generosos mais uma vez, nos surpreenda e nos devolva a soberania e a coroa, para voltarmos a reinar no mundo do futebol!


Djalma Dilton é escritor, poeta, compositor e cantor. Membro da Academia Brasileira de Artes Integradas. Ex-jogador do Bahia de Feira nos anos 1960 a 1962.

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