Coluna Djalma Dilton
Após cinquenta anos depois da primeira partida de futebol entre Corinthians X Santos, acontecido em 22 de junho de 1913 (Santos 6x3 Corinthians).
Desta vez em pleno Pacaembu, pelo extinto Torneio Rio-São Paulo, precisamente em 03 de março de 1963, numa tarde de domingo, às 16 horas, com um público pagante de 62.851 torcedores. Este "um" que complementa a torcida pagante, poderia ter passado despercebidamente, sendo, apenas, mais um na multidão, a assistir aquele memorável clássico, do privilégio de ver ao vivo em sua plena forma, o Pelé.
Assim, como o primeiro astro, tantos outros craques, como: Gilmar, João Carlos, Mauro Ramos, Lima e Calvet; Dalmo, Dorval, Mengálvio, Pagão, ele e Pepe.
O Corinthians é recebido com fogos, de tal forma que escureceu de fumaça, totalmente, o palco que estava cuidadosamente preparado para o referido match, ao entrar em campo, com: Aldo, Augusto, Eduardo Barbosa, Ari Clemente e Amaro; Oreco, Marcos, Davi e Ney; Bazani e Lima.
A partida transcorria num verdadeiro espetáculo futebolístico, quando o Pelé, inspirado como sempre, dava o seu show particular na arte de jogar futebol, juntamente com os seus companheiros, comprovando ser o melhor time de futebol do planeta; sendo duramente caçado por seus marcadores.
Das arquibancadas, ouvia-se o uníssono grito de guerra, da Fiel, com um ensaiado e criativo jargão, para incentivar e enaltecer a revelação corintiana, daquele momento: "Ney - Ney - o verdadeiro rei!" - Quando a bola estava sob seu domínio, o garoto era ovacionado com o referido jargão, numa forma de colocá-lo acima do próprio Pelé.
Associando o incentivo da Fiel torcida, ao seu brilhante futebol, mesmo distante do rei; o promissor Ney, tenta uma bela arrancada em direção ao gol santista, ao ouvir seu nome delirantemente ser proclamado; é desarmado e com três passos de maestria, chega a Pelé que abre o marcador com um golaço, não somente de "letra;" mas, de todo abecedário.
É justamente neste momento que este mais "um" anônimo torcedor na multidão, o "um" final do total de torcedores pagantes, não segurou suas emoções até então contidas, a pular e gritar: "este é o rei...este é o rei" - sem ao menos imaginar o tamanho do perigo que o cercava; ao ver aquela multidão enraivada sobre ele, com o único desejo de exterminá-lo.
Num repente, de forma desafiadora, na tentativa de livrar-se das garras dos Gaviões da Fiel, retira do bolso, uma carteira de sócio do Parque São Jorge, do qual era associado, aos gritos: "sou corintiano, sou corintiano" - enquanto exibia a salvadora carteirinha como prova, sendo o suficiente para acalmar o ânimo dos fanáticos torcedores e continuar sentado até o segundo gol, mais um de placa de Pelé, sem as devidas comemorações do anônimo torcedor, o número "um."
Djalma Dilton é escritor, poeta, compositor e cantor. Membro da Academia Brasileira de Artes Integradas. Ex-jogador do Bahia de Feira nos anos 1960 a 1962.
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