Coluna Alê Alves
51 anos. Cinco décadas. Meio século. Quão paciente e resistente um torcedor precisa ser?
O Botafogo de Futebol e Regatas mostrou um gigantismo quase sobrenatural na dramática noite desta quarta-feira (25) ao derrotar o São Paulo nos pênaltis e voltar às semifinais da grandiosa competição continental. Os 180 minutos deste duelo desfrutam uma ode à resiliência e recuperação da força mental.
Quando se contrata um homem como Arthur Jorge como treinador, é necessário entender o pacote de virtudes, trunfos e ônus que ele carrega consigo e tende a agregar juntamente ao plantel. Pois bem, o Botafogo entendeu, e hoje joga o melhor futebol do país sem pestanejar. Todavia, o que mais me chama a atenção, é compreender como o futebol traz em seu âmago as nuances da dor de uma forma cruel. E com o Botafogo, parece ser multiplicada esta sensação.
Verdade seja dita, nenhuma das grandes torcidas nacionais tem tanto o direito de conter o nível de confiança e segurança de que as coisas possam dar certo, quanto a do alvinegro de General Severiano. Aguardar mais de meio século para sorrir com uma vaga tão oportuna parece pouco, mas diante de três rebaixamentos no século, a maior derrocada em campeonatos de pontos corridos da história do jogo e uma série de décadas de gestões instáveis, trazem um sabor diferente. O fantasma exorcizado com o Palmeiras nas oitavas de final não foi suficiente; era preciso calar o maior estádio da maior cidade do país para se colocar entre os quatro clubes que podem conquistar a América.
Quando, no início deste texto, falamos de Arthur Jorge, é por reforçar a importância de uma liderança segura e de personalidade à beira do campo. Atualmente, o Clube de Artur Jorge não parece dar a menor pinta de que não irá suportar a pressão. Na verdade, o Botafogo hoje é o sinônimo maior de resiliência. Não há mais derretimento, não há mais "pipocadas", não há mais a desesperança.
A camisa listrada, outrora de Didi, Nilton Santos, Zagallo, Garrincha, Torres e tantos outros, pesou tanto que transformou o gramado em chumbo. E os futebolistas são-paulinos foram anulados no Morumbis. O Botafogo foi inteligente em sua marcação sob zona e interrompeu praticamente todas as linhas de passe possível para o adversário em seu campo. Todos os méritos devem ser dados à forma tranquila e corajosa com a qual a equipe carioca manteve o jogo condicionado a seu prazer até o técnico Luís Zubeldía tentar mudar as ações são-paulinas e dar mais mobilidade ao setor ofensivo. Ainda assim, o Botafogo soube ler. Arthur Jorge soube ler.
E mesmo na disputa de penalidades, era visível a assertividade do goleiro John. Ele pegou o último penal da equipe da casa e fez qualquer torcedor alvinegro (dentre os que não morreram no coração ontem) ter a certeza de que realmente o Botafogo se propõe a atuar em outros papéis de protagonismo, com cada vez mais gigantismo, mais força mental, mais poder de "futebol de libertadores". E é difícil dizer se os comandados de Arthur Jorge realmente vencerão algo já este ano.
Mas cá entre nós, o torcedor que viu a equipe com 33 reais no caixa do time, rebaixada e com as atividades profissionais quase falidas... Ah, este sim pode comemorar à vera!
Se a Libertadores é a glória eterna, ela tem cheiro de Glorioso!
Alê Alves, 25 anos, baiano da roça e estudante de jornalismo, repórter de campo da Rádio Sociedade News FM, reforçando a equipe "Os Diplomatas do Rádio". Redator do site Diplomatas News, apresentador do programa de pré-jogo aos domingos "Esperando a Bola na Rede". Estudioso da bola, aficionado por futebol americano, Fórmula 1, basquete e outros mais. Amante do futebol alternativo, e de rock, cinema e música pré anos 90.
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