Coluna Djalma Dilton
A inventividade humana é uma evidência inegável de sua inteligência, concedida por Deus. O ser humano, por meio de suas adaptações, atende aos seus desejos conforme as situações e suas próprias exigências; sejam quais forem, variando-as de acordo com o ambiente em que reside, a condição econômica e outras circunstâncias.
No futebol, não é diferente; de acordo com estudos, antes da popular bola de couro, os nativos já praticavam esse esporte utilizando crânios de animais vertebrados, além de laranjas, cocos ou qualquer objeto que apresentasse uma forma esférica!
A bola de meia, confeccionada a partir de meias de calçados velhas e inutilizadas, se destaca pela simplicidade de sua confecção, sendo preenchida com papel de jornal e pedaços de tecidos antigos, até se transformar em uma pequena esfera, leve e prática, ela se torna ideal para ser utilizada nos breves intervalos das aulas.
Responsável por possibilitar a habilidade de um melhor domínio nas competições de "embaixadinhas!" - Seria necessário, portanto, um tipo de bola para praticar o futebol em campos com as medidas oficiais; uma bola que se assemelhasse e fosse adequada a uma pelota de couro!
E, foi em Bonfim de Feira, onde passei minha infância, que conheci e tive a chance de observar o processo de confecção da tal "bola de bexiga!" - Com a qual dei meus primeiros chutes.
Era fundamental manter um bom relacionamento com eles e solicitar antecipadamente como encomenda, devido à intensa concorrência na busca.
Os pedidos eram frequentes: "Seu Genário, a bexiga é minha!" - "Seu Inácio, não jogue a bexiga fora!" - "Seu Joaquim, guarde a bexiga para mim!" Os apelos eram sufocados pela garotada. "Mas, para que "diacho" servem essas bexigas? Oh! Meninos, procurem algo para fazer!" Essas eram algumas das reações ao se sentirem incomodados pelos meninos travessos.
O passo inicial consistia em levantar-se às duas ou três horas da madrugada para conseguir a principal matéria-prima, em meio à disputa que ocorria no Matadouro Municipal de Bovinos, para obter a bexiga do boi, ou melhor, o reservatório de urina após o abate do animal; que, naturalmente, era oferecido aos cães pelos magarefes.
Para ser honesto, não recordo quem foi o criador dessa engenhosa bola. Lembro-me bem dos especialistas na arte de fabricá-la: Epifânio de Dona Benzinha e Val de Ioiô.
Com o auxílio de canudos naturais do mamoeiro, enchiam-nas com sopro de ar até atingirem um diâmetro satisfatório, que ainda contava com suas folhas verdes, revestidas com barbantes, de modo a ficarem bem alinhadas e protegidas, garantindo durabilidade no uso.
Após todo o processo, ao ser arremessada no solo, produzia um som metálico! Pronto, estava perfeita.
Na verdade, exigia-se técnica nesta confecção, para que os barbantes entrelaçados, não ficassem folgados e desfigurassem, como se fossem cabelos assanhados na esfera.
O sacrifício era gratificante, devido o custo benefício da fabricação e do material utilizado ser gratuito. A bexiga era fornecida pelos abatedores, os canudos de sopro e as folhas verdes do mamoeiro eram naturais.
O rolo de barbante era o único item a ser adquirido por compra nos respectivos comércios do sr. Francisco Rodrigues ou sr. Ananias Lobo.
Para as devidas aquisições de compras, fazia-se necessário criar uma "vaquinha" -e, de centavos em centavos, conseguir-se o objetivo. Agrupados, aguardávamos o término da artesanal "bola de bexiga;" para felicidade de todos.
Djalma Dilton é escritor, poeta, compositor e cantor. Membro da Academia Brasileira de Artes Integradas. Ex-jogador do Bahia de Feira nos anos 1960 a 1962.